CEM ANOS DE SOLIDÃO
Achei muito bacana essa matéria e vou publicar na íntegra o que li.
Quem já leu Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, e decide visitar a cidade de Santa Cruz de Mompox, no norte da Colômbia, deve esperar um déjà vu. Colonial, tranquila, isolada, parada no tempo: Mompós, como também é conhecida, costuma ser apontada, ao lado de Aratacata, como uma das fontes inspiradoras de Macondo, cidade fictícia onde se passa a obra-prima do mestre do realismo fantástico.
Mompox fica acuada, de um lado, por um vasto mangue e, do outro, pelo rio Magdalena. A relação desse rio com a cidade é ambígua: foi graças a ele que Mompox cresceu, estimulada pelo comércio - legal e ilegal - que vinha de Cartagena. Importante entreposto na rota para o interior, a cidade chegou a ser a terceira maior do país - ali foi declarada a independência da Colômbia, e dali Simón Bolívar partiu para libertar Caracas. Isso tudo antes que o mesmo Magdalena, por capricho da natureza, resolvesse alterar seu curso. A mudança no caudal, ocorrida no princípio do século XX, deixou de calças curtas o importante porto da cidade. Isolada pela impossibilidade de receber os barcos mercantis, Mompox entrou em decadência. Até hoje, é difícil chegar ali: levam-se cerca de oito horas para cumprir os 250 quilômetros que separam Mompox de Cartagena, com direito a balsa em parte do trajeto. Foi esse isolamento, porém, que permitiu a preservação.
O porto e outros edifícios históricos da cidade continuam conservados como em uma fotografia do passado, dando a esse pedaço de Colômbia o direito de figurar entre os patrimônios da humanidade. As igrejas são o cartão de visita mais óbvio, e rivalizam para saber qual merece o título de a mais bonita. Para muitos viajantes, a de Santa Bárbara sai na frente, com sua torre octagonal dotada de sino e balcão. Além da arquitetura colonial, esses prédios guardam outra particularidade: muitos continuam com a mesma função que tinham no passado. O hospital San Juan de Dios, por exemplo, foi fundado em 1550 e nunca teve outro endereço. Ao final da viagem, depois de se encantar com a simpatia do povo momposino e avistar os gordos sapos e as salamandras que também habitam a cidade, nada melhor do que levar algo de recordação. A sugestão aqui é uma unanimidade: o artesanato em filigrana de prata, produzido localmente e comercializado a preços vantajosos.
Gisele Lobato, especial terra.